A minha terra...


É a primeira hora da manhã. A luz ainda se espreguiça terminando uma noite longa, fria e estrelada. O meu olhar abre-se e foca as primeiras imagens, no caso, o tecto com ripas de madeira à moda antiga. Estou numa longínqua e remota aldeia transmontana, a minha terra...
Aqui o silêncio é ensurdecedor, apenas adornado pelo discreto som do vento a roçar nas folhas, como que a imitar o mar, e interrompido pelo som melodioso, ritmado e afável do sino da igreja matriz.
Ah o sino! Nada me faz sentir mais em casa do que o som daquele sino! Ao mesmo tempo reporta-me para o passado de outros tempos, onde o religioso era dono e senhor da vida dos humildes aldeões destas terras. O sino era o  maior instrumento do poder.  Ditava as horas, numa época em que praticamente não havia relógios*. Indicava a altura para se reunirem para as tradicionais missas e depois o início formal das mesmas. E aclamava para a reunião do povo, quer para informar da morte de algum vizinho, quer para a união de esforços no socorro a um incêndio e para muitas vicissitudes do trivial diário.
De volta ao meu acordar, faço uma inspiração profunda, e reconheço-me novamente em casa, pela frieza e pela pureza do ar que respiro. Lá fora já se ouvem os  passarinhos que me dão uma sensação única de conforto**, e os galos que cantariam prematuramente face ao sol, mas que sinalizam um bom amanhecer em aldeia.
Levanto-me e parto à descoberta das histórias escondidas pelo passar dos anos e pelas raízes de grande parte dos nós, Portugueses.
Este texto é um início de um texto maior sobre as coisas esquecidas das aldeias de antigamente, e os saberes perdidos pela corrosão do tempo.


Abraços

* Aos primeiros 15 minutos, dá uma batida, à meia hora, dá 2, aos 45 minutos de uma hora dá 3, ao completar a hora, dá quatro, seguido de outro sino que reproduz as batidas correspondentes à hora, 10 batimentos são as 10h.

**  Talvez seja um remanescente do tempo em que vivíamos no paraíso ;D

Comentários

  1. Que lindo!

    Também ando a escavar no passado da minha terra, bem mais ao sul do que a tua. Quando se começa a levantar os véus surgem novas camadas para desvelar. É uma aventura interessante e penso que necessária para compreendermos quem somos.

    Podes espreitar as minhas descobertas aqui: http://canticodassombras.blogspot.com

    Eu fico à espera de mais histórias da tua terra.

    Beijinhos!

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  2. Ainda ontem andei por este blog, já tinha saudades. Muito boa descrição **

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  3. Humm...que texto maravilhoso:) Que viagem bonita pela história de todos nós, contada por esses fragmentos que tornam as nossas terras verdadeiras Terras do Nunca, onde a magia nunca acaba:)

    Parabéns pelo texto e principalmente por tudo o que está por detrás do mesmo!

    Beijinhos,
    Andrea

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